Ao longo do texto “Os humanos têm corpos”, do livro 21 lições para o século 21, de Yuval Noah Harari, é ressaltada diversas vezes a importância dos humanos e seus corpos, além do estabelecimento em grupos. Ao trazer o tópico do Facebook, que tornou como missão unir mais os indivíduos por meio de inteligência artificial, o texto inicia a questão da interferência das redes sociais e inteligência artificial nas pessoas.
O texto aponta para a disposição de Mark Zuckerberg em desenvolver ferramentas que conectem as pessoas e, assim, construa uma comunidade global. Porém, no próprio texto é salientado que, apesar da necessidade humana em participar de grupos sociais, não é viável unir uma grande quantidade de indivíduos. Somos adaptados para vivermos em pequenos grupos. Contudo, mesmo isso vem se perdendo com o passar dos anos.
Consequentemente, as pessoas vivem vidas cada vez mais solitárias num planeta cada vez mais conectado. (HARARI, 2018)
Isso é algo notável, principalmente nos dias de hoje, quando nos encontramos rodeados de outras pessoas na rua ou em algum evento: boa parte delas estão olhando para as telas dos celulares. Em festas, ao invés de conversarem entre si, preferem focar no que seus aparelhos têm a oferecer. Conversam com quem está distante e deixam de lado aqueles que estão próximos. Claro que não é nenhum crime conversar com amigos ou familiares pela internet. Mas a substituição de viver determinados momentos fora das telinhas e priorizar o virtual, ignorar o mundo que o rodeia em prol da vida online, acaba se tornando algo prejudicial. Nos conectamos tanto com o mundo virtual que perdemos conexões reais. Estamos tão acostumados a ter o mundo em nossas mãos que esquecemos do mundo em nossos pés.
Esse esforço do Facebook de criar uma comunidade global conectada é algo notável principalmente pelo uso de inteligência artificial. Contudo, é preciso relembrar da importância de viver o mundo real. Quanto mais estamos conectados com o mundo todo, mais nos distanciamos de nós mesmos e das sensações que a realidade tangível nos proporciona. Nós direcionamos nosso foco para as redes sociais e nossa “imagem” online e paramos de experienciar momentos de forma genuína. Esse investimento em uma inteligência artificial, apesar de ter partido de uma iniciativa válida de reunir as pessoas, faz com que gastemos horas online e, como já dito, isso pode ser nocivo aos indivíduos quando feito de forma excessiva.
Ele e os outros gigantes on-line tendem a ver os humanos como animais audiovisuais — um par de olhos e um par de orelhas conectados a dez dedos, uma tela e um cartão de crédito. Um passo crucial para a unificação do gênero humano é considerar que humanos têm corpos. (HARARI, 2018)
Com isso, começo a me questionar o quão longe o contato humano x IA pode chegar. Estamos sendo observados, nem que seja de forma indireta, o tempo todo. Ao reunir dados, sob o pretexto de nos proporcionar uma melhor experiência online, nossos interesses e desinteresses são registrados. Mas até onde isso vai? Não sabemos de fato o quais são os limites disso, vide os escândalos envolvendo a privacidade dos usuários do Facebook. Essa inteligência artificial é usada de forma moderada ou invasiva? O modo como somos expostos à internet, mesmo quando evitamos isso, acaba forçando essa inserção do indivíduo no mundo virtual e vice-versa. Claro que é interessante pensar em uma mesclagem do mundo real com o virtual, mas isso é realmente algo necessário a todo momento?
Em design de mídia digital, sempre é discutido como o futuro da tecnologia vai interferir na realidade e qual vai ser a utilidade das ferramentas do futuro. Quase sempre fazem projeções de instrumentos incríveis que facilitariam a vida das pessoas, propostas de máquinas que nos aproximariam cada vez mais da internet. Mas quase nunca consideram a necessidade de priorizar o mundo real e acabam colocando o mundo virtual em primeiro plano.
Até onde existirá um espaço que separe a realidade do virtual? Será que realmente precisamos tanto nos conectar com a web? Será que vai ter volta?
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